domingo, 24 de maio de 2009

CRONICA DA IDA


INTRODUÇÃO

Mais de um mês passado desde o regresso a Portugal do grupo que alguém chamou de Missionários. Lembrando os participantes da que foi a 5ª Missão 2008
e a forma como a viagem decorreu, precisei arrefecer. Se escrevesse 'a quente' chamaria, como se diz, os bois pelos nomes o que não seria bonito nem prestigiante para ninguém.

A frio, acho que vou conseguir dizer tudo para quem tem «rabo de palha» mas sem deixar lugar a acusações ao meu julgamento e àquilo que vi.

Críticas? Muitas! Construtivas? Nenhuma!

Alguém escreveu: «Ajudas futuras… mas para escolas públicas e para o hospital público Simão Mendes, talvez mais necessitados mesmo
Serão sempre talvez mais necessitados mesmo. Qualquer ajuda que não seja entrega a uma gestão séria e regrada será perda de tempo e de esforço porque nunca serão os mais desfavorecidos a beneficiar --- desculpe-me o ‘autor’ por apontar aqui a sua absoluta ignorância.
Hospital de Cumura, Escolas de Bissau das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras e Missão de Antula, entidades de referência e de reconhecido mérito na solidariedade social. 



CRONICA DE UMA VIAGEM
Os leitores mais atentos de «crónicas de viagem» procuram identificar situações menos previsíveis, desafios e dificuldades embora, a componente de ‘literatura cor de rosa’ relatando amores de desamores de grupos heterogéneos vivendo muitos dias em comum, nem sempre na forma mais coerente e urbana, também mereça o seu interesse.

A responsabilidade de relatar a «visão feminina» da Missão foi confiada à nossa companheira CRISTINA MONTEIRO pela VISÃO


A 6ª Missão representou impacto mediático muito forte e um ‘convoi’ de 9 viaturas e 21 participantes a deslocar-se 21 dias por África até à Guiné-Bissau foi uma força de intervenção quase inatacável.
Mas os desafios estão lá, as barreiras burocráticas e policiais, cada ano com ardis mais sofisticados e inovados. No terreno, algumas melhorias mas não as suficientes para poupar mecânica das viaturas e espírito dos participantes.



O primeiro dia foi duro e comprido mas fácil. Vencer quilómetros a atravessar Portugal e Espanha até Tarifa. Sem incidentes, o embarque e piquenique a bordo e o desembarque no reino de Marrocos.


A primeira fronteira e o primeiro desafio. Nove viaturas carregadas para além do possível, recheadas de cobiçados bens de primeira necessidade. Um furgão demasiado grande para passar despercebido e os receios das dificuldades com a sua passagem.


O nosso querido Zé Periquito, companheiro da 5ª Missão, relembrando uma difícil situação do seu passado de aventura em Marrocos, com toda a preocupação nos alertou para as previsíveis dificuldades a ultrapassar (ou não) VENCEMOS, doce amigo!

Formalidades cumpridas na fronteira de Tanger, um chefe de alfândega já encontrado noutras viagens, sem fiscalização às cargas, em tempo recorde, aí está a expedição em terras do norte de África, rumo à aldeia piscatória de Moulay Bousselham, a uma belo jantar e ao merecido descanso ‘dos guerreiros’.

Não se iluda quem ler esta crónica; nem sempre Allah está atento e facilita o apoio ao seu povo.


Primeiro dia e primeiros desafios superados mas muitos outros, mais complicados, nos vão esperar ao longo da comprida semana de mais de 5000 kms que nos separa de Bissau.
O Hotel «Le Lagon» inserido na paisagem, em balcões escarpa acima, não estando no melhor estado de manutenção também não estava mal de todo. Como saímos de casa ontem possivelmente ainda haverá quem se não tenha apercebido que estamos em África.



«Ainda?» opiniões convergentes afirmam que «foram e voltaram» sem perceberem para quê.
Já raiou a manhã fresca do dia seguinte, nublada e húmida pela presença do Atlântico e da imensa lagoa de águas cristalinas; pessoas exigentes mesmo aguçando a crítica não conseguiram negar a beleza da paisagem.
Como acontece em todas as viagens NUNCA se consegue iniciar cada dia de viagem à hora previamente estabelecida para a partida; ou porque alguém dormiu mal ou porque não acordou a tempo, ou porque na véspera não tinha verificado ‘qualquer coisinha’ (sem importância) na viatura tal como meter combustível, ou… ou …

Destino Marrakech pela auto-estrada de Kenitra. Campos de cultivo verdejantes testemunhos da prosperidade das populações protegidas pelo RIF. 
Bom andamento deu a possibilidade de chegarmos com tempo para visitar rapidamente a cidade, fazer compras no souk da grand-place Jemal Al Fna e jantar no restaurante no terraço superior ao ar livre do Hotel Tazi. 
Outro dia longo com o objectivo de atingir Tan-Tan Plage.

Citação: São 7h30m quando saímos, Devíamos ter saído às 7. 
O boato de que a auto-estrada Marrakech | Agadir estaria praticamente concluída não era mais do que isso «boato», subindo, descendo, serpenteando, mais rápido ou devagar venceram-se quilómetros.

Ao sair de um posto de portagem, estupidamente, eu que nem conheço os ruídos normais ou anormais do motor do TD5 encosto no parque para que o Paulo verifique se está tudo normal.
Logo alguém alvitra que há avaria grave. Outro alguém sugere um cilindro isolado, Bem; sugestões não faltaram para nos deixar em perfeito ‘suspense’.
Na opinião do Paulo, depois de fazer uma verificação na centralina, haveria efectivamente uma discrepância num cilindro.
A seguir a Inesgane decidimos voltar a Agadir, procurar uma oficina Land-Rover e verificar a gravidade da avaria. Pois! Electrónica ninguém se atreve e sem equipamentos específicos e de origem nem o Paulo deixaria por a mão.

Paulo!! Reafirmo: Land-Rover é Land-Rover
e
5 cilindros para quê? O Terrano só tem 4 de origem e já foi à Guiné 3 vezes (riso)

Pois… GANDA MAQUINA ! foi e voltou e ainda por aí anda sem ter sido ‘hospitalizado’. Mudou de look e ficou mais genuíno ainda sem a bela capota de lona despedaçada pela micro-tempestade de areia. 
Susto? Sim susto e de que maneira!  A bela pintura de camuflado se não fora coberta por auto colantes talvez tivesse sido estragada na abordagem a uma ‘daquelas’ fronteiras mais quentes em que os sorrisos dos militares se misturam com espingardas automáticas.

E reclamação: os designers da Land-Rover deixaram os pedais mal posicionados. Não vou esquecer nunca mais a brutal travagem ao lado de um enorme camião na estrada de Thies quando decido fazer uma desmultiplicação de caixa. Preciso explicar?
A sério!! O Paulo e o TD5 são duas ‘pedras’ Adorei viver aqueles 20 dias ‘em família’.
Sem importância, afinal, serviu para a primeira cisão do grupo e as primeiras dissidências e contrariedades mas irrelevantes.
Deu-se o reencontro no Hotel em Tan-Tan. Devo um agradecimento pessoal ao Fernando Mendes que me reservou um quarto minimamente bom , abdicando do seu próprio conforto.

Mas a noite de sono teve de ser curta, quem ficou alojado nos bungalows não teve água de manhã, vindo a recorrer aos quartos dos outros elementos alojados na unidade principal.
Resultado: saída com atraso sobre a hora prevista para outro dia longo até Dahkla.

Sahara Ocidental – começa o forte controlo policial e aduaneiro.

A sacramental pergunta presente durante toda a viagem e em quase todas as barreiras policiais:
 – o que transportamos? se temos armas?
A sacramental resposta:
-  somos um ‘convoi’ humanitário não temos armas nem nos interessa a politica interna de cada país.
- e explosivos? Nesta deu para brincar a sério. O cansaço fez responder que o único explosivo seria a organizadora e nem quisessem saber o que aconteceria se não partisse de imediato.  Deu para partir logo, no meio de grande euforia dos senhores policiais.

A experiência passada ajuda muito. Há uma quantidade impressionante de «fiches police» aperfeiçoadas ao longo das diversas passagens e que actualmente se mostram absolutamente completas e eficazes.

Dá para imaginar o tempo que seria necessário para que os senhores agentes da autoridade inscrevessem nas suas «sebentas» todos os dados dos 21 participantes

                                          VEHICULE
IMATRICULATION_____MARQUE____MODELE_______  
DATE 1er. IMMAT. _____CHASSI  __________________
CIE.ASSURANCE  ______CARTE VERTE______________  
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CACHET D’ENTRÉE AU MAROC: ____DATE D’ENTREE___
PAR :  TANGER                             SEBTA 
NOM  __________PRENOM___________ 
PERE   _______   MERE  ______________         
DATE/LIEU NAISSANCE_____ ETAT CIVILE ____  
OCUPATION______________
PASSPORT____ DELIVRE____DATE____VALABLE__
ADDRESS _____  Portugal           ENFANTS ____  
DESTINATION :
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O dia avança e a caravana também, a bom ritmo.
Citação: «Trópico de Câncer! Descobrimo-lo apesar de não termos o GPS ligado
Correcção: Cerca de 3kms depois das fotos e da recolha das garrafas de areia estava sinalizado o almejado Trópico de Câncer – 23º 27’ mais metro menos metro – que é isso para quem…
Citação: «Já tinha tido tempo de me habituar à ideia de que o meu condutor tem um GPS na cabeça! Fez o caminho uma vez, no ano passado …» e decorou . 
Paragem em LaAyoune para um café, levantamento de dinheiro em ATM e um pouco de descontracção e convívio.
Furo!  diz alguém no walky-talky. Bolas! Estava a correr tão bem a perspectiva de almoçar no Bojador!

O furgão com algumas 3 toneladas de carga pregou a partida! Tinha sido todo revisto, inspeccionado e calçado de novo à frente. Acontece!

Regresso a LaAyoune porque parece demasiado risco seguir sem pneu suplente e com dois pneus duvidosos a rodar.
Azar! Hora de almoço e oficinas fechadas até às 14H30. Aproveitamos para almoçar e embirrar um pouquinho uns com os outros para aliviar o stress.

Mas um azar nunca vem só! Aproxima-se o almejado Bojador mas há que procurar mais uma vez uma oficina. O Mitsubishi está com problemas no alternador e vai ser de noite muito em breve. (sem luzes? Impossível!)
Mangas arregaçadas, aliás, batas vestidas, e aí está a fenomenal equipa técnica composta pelo patrão do Mitsubishi, o Paiva e a assessoria do Areal e do Bré em acção. E, bem! Pasmem! O Fernando até tinha um alternador de reserva!

Citação: 5º dia «Mais uma vez, já só vamos conseguir parar depois da meia-noite!»
Errado:
 à 1 da manhã chegamos a Dahkla.
O Regency esperava o grupo e tudo foi fácil e bom 
Um novo dia soalheiro e quente  novamente com bastante atraso metemo-nos à estrada
Vencem-se quilómetros, passa-se El Argoub, abastecem-se as viaturas e, como a estrada é boa, há que vencer quilómetros porque, para além de querer ultrapassar Bir Gendouz cedo (esta fronteira assusta-me especialmente), é moroso fazer a saída dos participantes com os respectivos registos informáticos de saída, carimbos nos passaportes na Polícia (somos 21) e o desalfandegamento das viaturas na Alfandega (9 viaturas interditas a serem fiscalizadas).


Etapa superada em tempo muito curto (embora nem pareça – as reclamações sucedem-se por quem nunca andou por estas paragens ou pensou tratar de uma excursão à Fonte da Telha). 
Terra de ninguém, nem de lagartixas, só de montes de esqueletos de veículos abandonados. Campo desafiador e perigoso, com aviso de minas em que muita gente não acredita.  Precisamos escolher a pista com menos areia para o furgão. É já ali mas parece tão longe. 
Como é hábito junto a estas fronteiras, vários ‘prestimosos’ guias nos assediam; um conhece o Fernando, ajuda-nos a contactar a Mauritânia porque os nossos telefones não conseguem completar as ligações. Por isso vai acompanhar-nos depois de bem discutidos os seus honorários.

E eis as portas da Mauritânia! 
O nosso amigo Yousouf contactou a Polícia e mandou que fossemos ajudados nas formalidades de entrada. O visto que não se obteve em Portugal não obstante todas as diligências apoiadas pelo Paulo Barata, é obtido e pago na fronteira mas com a validade possível de 3 dias. 
Os expert’s convictos afirmaram:
Citação: «Mauritânia eu vi logo que os vistos eram de 3 dias e que se não fossem prolongados em Nouakchott, não teríamos vistos à entrada»
Que arrependimento não lhes ter delegado a função; posteriormente, em vez de crucificada, muitos nos teríamos rido dos resultados. 
É assim, em todas as circunstâncias há sempre messias improvisados. O senão é a facilidade com esses messias manipulam mentes menos preparadas ou vedetismos.
Vamos encontrar o Yousouf ao PK 170 de Nouakchott que, por ter uma varia no seu Mercedes, vai viajar no nosso furgão até à capital, leva-nos ao hotel previamente marcado e, dado o adiantado da hora vai comprar-nos pizzas para cearmos no próprio restaurante do Hotel.

Fica combinado o regresso, garantindo-nos todas as facilidades logo que receba um telefonema nosso da fronteira do Senegal.
…mas alguém teve presente os acontecimentos políticos recentes?

Um novo dia, novo desafio – entrar no Senegal 
6º dia «10:30 - Ainda estamos em Nouakchott» Pois… 
Até à fronteira abundam os controlos e embora ‘o goudron’ não seja totalmente mau, rolar por estas paragens é viver ‘no fio da navalha’.
Citação: «chegamos a Rosso. Mandam-nos parar. Quando percebemos que não são polícias, passamos no meio deles e seguimos rapidamente.»
Mais um fracasso! Não consegui transmitir a minha preocupação (talvez com receio de assustar os mais jovens) mas Allah estava atento.
Vamos sair para o Parque Natural de Diawling (reserva de animais selvagens e aves), acrescento: zona de pântanos e de quantidade inimaginável de poeira fina e vermelha, irrespirável.
Nesta viagem até os animais ‘fizeram gazeta’ salvo uma ou outra cegonha ou pelicano, alguns javalis e muitos bois com todos os seus excrementos.
Mas esta atracção turística sem qualidade, sem apoios, sem manutenção, tem mesmo preço de turismo: € 10 «por pessoa», pagos à saída já sem hipótese de desistência.
Aqui quero deixar outros agradecimentos pessoais: Miguel Almas e seu Jeep Wrangler com ar condicionado – Mário Ribeiro e seu Toyota ignoro se com ar condicionado – obrigado pela quantidade monumental de poeira que nos fizeram ‘comer’ com as vossas ultrapassagens. 
Depois li qualquer coisa como «ter abandonado a carrinha na pista»; O furgão nunca teria atolado na areia sem ter havido qualquer situação anormal que desconheço. Afinal safou-se em cinco minutos. 
Bendito abandono para alguns
Citação: «Enquanto esperamos pela carrinha, que vem mais devagar, o Fernando enfia a mão no nosso frigorífico, saca a garrafa de Whisky e pinga para o copo de plástico que encaixou no tablier… Pequenos prazeres para esquecer a dureza do terreno!»
e depois de conhecido esse prazer talvez uma boa desculpa para as ‘tais’ atitudes que sendo ‘peixeirada’ não cabem neste blog e que não terão resposta  mas serão linearmente apagadas se aparecerem em comentário.
Fartos de pó e ultrapassagens juntámos a caravana à saída do Parque de Diawling já com o pagamento feito e prontos para partir sem perda de tempo. 
Espera-nos a saída de Rosso e todas as formalidades em Djama até atingirmos o objectivo de hoje – Saint Louis do Senegal.
Saída da Mauritânia sem incidentes, dentro da habitual normalidade da profusão de guardas a armas automáticas, preenchimento de formulários e formalidades
Vá lá! Uma grande simpatia… não verificaram os números dos chassis. 
Registos, carimbo dos passaportes na Polícia de Birette pagamento de €10 por pessoa; 
Registo das viaturas na Alfândega e pagamento de € 10 por viatura ; 
E pagamento de €10 por pessoa no barraco da Comuna de N’Diago (nunca entendi bem que verba é esta mas um velho negro com aspecto de ‘cão de fila’ está atento para que não lhe escape ninguém na contagem). 
Há anos que estas entidades descobriram os € (ouros) e estabeleceram estes valores; não utilizam a moeda local (ouguyas  1€ = 350 OU ou Francos CFA 1€= 650 CFAs)


DESTINO SENEGAL por DJAMA

A seguir «a ponte com portagem» outro «cão de fila» a recontar as pessoas e outra vez €10 cada uma. 
A passagem da fronteira
Este ano não foi preciso ir à aldeia ‘a casa’ do chefe.
O nosso jovem amigo Majoup apressou-se a esclarecer que tinha informado o chefe da nossa passagem. 
Eis o chefe! 
A pessoa mais matreira que conheci em toda a vida, não obstante nacionalidade ou cor da pele. Forma de falar lenta e tranquila mas obstinada e difícil de argumentar. É o ‘grande chefe’ ; grande mesmo, em tamanho e astúcia.
Para atravessar o Senegal ‘este chefe’ manda emitir um Passavant por cada viatura, cujo custo facial é de 2.500 CFAs. (1€ = 650 CFAs)
 Aos participantes foi solicitado que permanecessem junto às viaturas; é difícil, está calor, já foram martirizados com o tempo imenso que parece não correr, na fronteira em Birette 
Mas o momento crucial é aqui.
É do livre arbitro deste ‘grande chefe’ a autorização e a forma como vamos atravessar o Senegal.
Informado de que se trata de um ‘convoi’ humanitário com destino ao antigo território português da Guiné-Bissau, transportando material hospitalar, roupas, material escolar e alimentos para crianças em risco de vida, apoiado por instituições portuguesas que seguem atentamente a progressão da Missão, mostra-se sensibilizado e congratula-se com a louvável iniciativa. (até fez lembrar os filmes do «Padrinho»)

Como prova da sua boa vontade vai ajudar-nos a atravessar o Senegal em segurança com uma escolta policial que irá requisitar ( e que teremos de pagar, para além de € 200 por cada viatura).
Impensável! Uma escolta durante 4 dias e 3 noites? O ‘grande chefe’ tinha ultrapassado a sua própria imaginação.
Sentindo-se como uma bomba de relógio na contagem decrescente mas avaliando que tem que manter a situação controlada, não deixar apagar o sorriso, aparentar toda a segurança e confiança em si, dialogar sobre tudo e nada, continuar a sorrir, brincar com a situação, mostrar não ter pressa mas estar cansada, continuar a sorrir… e lançar de repente: «impossível! Só temos dinheiro para comida e combustível para chegar à Guiné-Bissau; não temos capacidade para desfrutar da segurança de uma escolta como nos agradaria muito. (tão safadinha quanto o ‘grande chefe’!)

Volta-se a ‘serrar presunto’ continua-se a sorrir; até há umas lembrancinhas para o ‘grande chefe’ pensando em 2008 (e que problema tivemos!! mas já esquecemos), somos pessoas de bem e compreendemos que nem sempre as coisas são fáceis! Brrrrrrrrrrr!
Resultado: Negócio fechado com o pagamento de € 50 por cada Passavant de cada viatura e nada de escolta. Ufff ! – afinal foi o mesmo que pagámos em 2008. 
Agora só falta o resto – a inspecção às viaturas.
Tudo bem! O furgão tinha sido estivado pela Lima;  pas  problem. Vens vistoriar o furgão, vais ver que só tem alimentação e roupas e seguimos sem mais demoras porque precisamos chegar a Saint Louis para jantar.
A sacramental pergunta: tens medicamentos?
A sacramental resposta: com este calor achas que podemos transportá-los?

Pois… com o furo no pneu do furgão, com a pseudo-avaria do TD5. com…com…com…a carga tinha sido toda baralhada.
Com toda a segurança convida-se o ‘grande chefe’ a escolher a caixa que pretende que se abra e que deveria ser leite em pó, arroz, sabão, brinquedos. Pois…
Citação: « Na alfândega perguntam se transportamos medicamentos. Quem? Nós? Claro que não! Querem abrir o furgão. A Leonor negoceia a abertura de algumas caixas que eles escolhem. Primeira caixa: medicamentos! Segunda caixa: computador! Terceira caixa: soro fisiológico. »

Pois… Um caixote de caixas de bisnagas de pomada! Medicamento? Qual nada! Simplesmente creme para o rabinho dos bebés doentes, na muda da fralda (quase se fez saltar uma lágrima de compaixão)
ESTAMOS NO SENEGAL
Destino: Jantar e dormir no HOTEL DE LA POSTE – mas não sem antes haver um incidente (tem sempre que haver aqui um incidente com a polícia porque esta é a sua segunda fonte de receita), não se consegue nunca prever o que nos vai sair

Citação:  Polícia gago, muito indignado, pede as cartas internacionais de condução “definidas pela convenção de Genebra de 1968” e recolhe as cartas de condução, que… não são internacionais! Mas lá escapámos, não sei como.
«(o Fernando diz: Ah! Isso já é muito antigo, já não usamos na Europa!)»
… EU SEI!  … !  Paguei ao ‘diligente e gago elemento da força policial € 5 pelo resgate de cada carta de condução e fiz um homem feliz.

«Li algures - não se subornou ninguém, comprou-se tempo. 
Valeram as muitas recomendações sobre excessos de velocidade, cintos de segurança, traços contínuos, prioridades.
Mais um dia de almoço piquenique porque precisávamos avançar no terreno para evitar as únicas e péssimas acomodações existentes até Tambacounda e também assim ganhar um dia de viagem. 
Houve incidentes de pouca monta sem consequências e descritos na Crónica da Visão do 7º dia pela Cristina Monteiro
Citação:  o Miguel Almas vai ao seu jeep e traz uma garrafa de vinho branco gelado. Distribuem-se copos de plástico (!) e gravo mentalmente um momento que, penso, nunca vou esquecer: fim de tarde na savana, calor e vinho branco gelado.»
Pedi muito mas, com pena, não consegui obter uma foto do interior do Wrangler. Afinal não tinha valido a pena… se fosse só o Wrangler !!
Tinha sido proposto  rolar com ritmo mas com cuidado porque haveria troços de estrada que não seriam mais que «restos» da mesma. Não houve muita preocupação de alguns participantes em seguir as informações dadas e deram-se os consequentes atrasos. O furgão recebeu as culpas, o M.La Valise é tranquilo e nem «estrebucha».
Aqui a estrada é tão rarefeita como o oxigénio da ‘espécie’ de ar que respiramos e a que deveríamos antes chamar poeira. A via para Tambacounda.
Mas afinal todos ficaram de parabéns. Chegamos bem e a horas de escolher jantar ao Hotel NIJI (recomendado e reservado pela Peggy do Hotel de La Poste) que, para variar, até parece que agradou a todos. Pudera!
Depois do que se livraram só com o sacrifício de andar mais uns quilómetros nos últimos dois dias. 
Citação: Almoçamos em Velingara, no "complexo turístico" onde deveríamos dormir e que nos obrigou ontem a um esticão de estrada para evitarmos passar cá a noite. Pedimos para ver os bangalows... Não sei descrever a porcaria encardida das paredes, do mobiliário das casas de banho.  Um pesadelo.
…e eu não disse? 
Está calor mas vamos esforçar-nos para fazer a ‘picada’ para sair do Senegal, até à fronteira de Pirada (Guiné-Bissau). Não foi muito sacrificante talvez porque se sente já a aproximação da conclusão da Missão.
A saída do Senegal foi fácil (até parecia que se queriam livrar de nós). Pouco mais à frente, saindo da poeira, uma tabanca, uma boa sombra e um posto policial sem ninguém dentro. Espera-se… eles têm todo o tempo do mundo! 
Finalmente chega o funcionário, lento, encalorado mas lá se dispõe a carimbar os 21 passaportes.  Mais à frente a alfândega, fichas, sempre mais fichas mas 
FINALMENTE LIVRES E A ENTRAR NA GUINÉ-BISSAU COM A NOSSA PRECIOSA CARGA. 
Final ainda não! O chefe chama de volta, falta ir a outro barraco… afinal foi só dizer olá ao ‘castanho’. 
Seguimos por Gabú, Bafatá, Bambadinga, Nhacra e Uaque.
O complexo turístico de Uaque que nos aguardava (amanhã) dista 45 km de Bissau; é noite. 
À frente segue o Furgão, o Lau tem residência na Guiné e boas condições para orientar a coluna de viaturas, fala crioulo e supostamente conhece a estrada. Supostamente!
Barreira policial; e que barreira e que elementos! Embriagados? Drogados? Ou as duas coisas! E com as ‘benditas’ kalash bem aperradas!
O Lau lá conversa umas ‘tretas’ esfarrapadas mas lá baixam a corda e seguimos para Uaque.
Bendito Uaque! Viu-se a placa, avisou-se pelo intercomunicador, seguiu-se sempre…até voltar para trás e desesperar – a barreira policial aproxima-se e não podemos voltar a ser vistos! Sentidos todos em alerta, placa de Uaque; o complexo turístico é logo à entrada (ou saída?) de que lado? Uma estrada sairá na perpendicular. Uma estrada! O TD5 entra e vai rolando até… lado nenhum.
Volta-se ao alcatrão, vemos luzes ao fundo de outra estrada de terra; os outros já vão entrando. Uaque finalmente!
 O complexo é dirigido desde há um mês pelo irmão do proprietário, um empresário do Entroncamento amigo de amigos.

O Felipe recebeu-nos com toda a cordialidade embora tenhamos chegado com um dia de antecedência. Dos 11 quartos reservados só nove estavam livres.

O Lau com a sua habitual descontracção vai buscar a sua «bajuda» e ocupa um quarto deixando ‘pendurado’ o seu habitual companheiro ‘o bajuda’. Dos 9 restam 8 e continuamos a ser 20.

Procuram-se soluções, é difícil chegar a consenso. O Felipe disponibiliza a 2ª cama do seu bungallow e o Bré aceita; o Barata acolhe a filha no quarto dos pais, sobra a Cristina para mim.
O João, o Ricardo, o Vítor  e o Mário partilham um bungalow. O Hugo, normalmente companheiro do Bré, também contrariado fica com o Rui e o Esteves. O casal Brandão está instalado, o Areal e o Paiva também. O Domingos, o Miguel e o Fernando ficam juntos.

Descobriu-se posteriormente que havia ficado um bungalow vago.
No segundo dia quase se repôs a normalidade. Quase… porque por decisões próprias o Barata continuou com a filha no seu bungalow deixando a Cristina ‘pendurada’ e os 4 rapazes continuaram juntos por economia.

Uns dormiram bem, outros foram dormindo, outros pelo contrário.

No final estabeleceu-se a confusão porque o preço estabelecido dormida e pequeno-almoço, por pessoa, era de € 19 mas para a ocupação mínima de 2 pessoas. Os 4 pagaram por 2 e lá se arranjaram as contas com descontentamento de alguns por meros ‘tostões’ e um jantar gratuito com ostras grelhadas e batuque tribal.

Já foi contactado  Frei Victor, médico dirigente do Hospital de Cumura


e a Irmã Eloisa das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras que nos esperavam ansiosamente

Manhã cedo rumamos a Bissau  e à Missão de Cumura. Merecemos qualquer castigo porquanto, sem entender, foi-nos aplicada uma penitência. O ‘missionário com o GPS gravado na cabeça’ inusitadamente deixou o alcatrão, seguido de todos os Totós, andou pelas tabancas, entrou em  becos mas, bem… finalmente voltámos ao alcatrão – afinal o Hospital era mesmo logo ali. 
A Irmã Eloisa esperava-nos. Procedeu-se à descarga da espantosa quantidade de bens que se tinha conseguido enfiar nas viaturas e que FELIZMENTE, depois de passarem ao lado do controle de inúmeras barreiras alfandegárias, conseguiram chegar intactas ao destino.

Este blog não tem por objectivo nem culpar nem desculpar ninguém. É um relato que pretende ser isento mas onde estarão apontadas boas e más atitudes.

Aponto uma falha à organização – não houve uma atitude suficientemente rígida e intransigente de forma a evitar palpites e protagonismos.

Dias antes da partida foi distribuída, via internet, diversa documentação, normas e conselhos para  bom desempenho de cada participante. Lamentavelmente essa documentação não mereceu a mínima atenção e do facto se deu conta quando se trocavam impressões e ninguém sabia coisa nenhuma.

Foi feita uma listagem que aconselhava o posicionamento das viaturas no convoi, lista feita com base no conhecimento ou das viaturas ou dos condutores. Muitos dissabores teriam sido evitados se tivesse sido respeitada ou mesmo discutida.

Houve tempo para instalar a fotocopiadora de alto rendimento oferecida pela XEROX 
E de um computador completo dos cinco preparados pela Associação Bem-Haja.net

Eram horas de almoço, a Irmã Eloisa transmite-nos um convite para almoçarmos corroborado por Frei Vítor. Para agrado de todos, aguardamos no fresco no pavilhão da fisioterapia. 
Em pouco tempo o almoço preparado pela Irmã Germana em Antula estava a ser servido em Cumura. Mesmo descrente quase acredito em milagres… que não são mais que o cumular da boa vontade com a amizade. 
Reservou-se no furgão os bens especificamente destinados à Missão de Antula. Depois de almoço rumámos a Antula. 
Havia uma máquina de costura, acessórios, tecidos e linhas oferecidos pelo CITEX que  nosso Areal iria entregar e dar instruções à Irmã Ester.  Já estava instalada a máquina de costura que o Carlos Rodrigues, participante de uma missão anterior da TTT, tinha feito chegar por contentor há poucos dias.
Mais uma situação superada. 
MISSÃO CUMPRIDA
e
UM DIA MAIS EM BISSAU

Partir e aproveitar esse dia numa qualquer praia ou ficar em Bissau e visitar por exemplo Varela ou Bolama? 
Era suposto sermos recebidos pelo Reitor da Universidade Lusófona, Eng.º Montenegro Mascarenhas, porque éramos portadores de uma missiva de apresentação e de um livro de oferta. Depois de diversas dificuldades de contacto telefónico e consenso de oportunidade, não foi possível efectuar esse encontro. 
A hipótese de navegar até ao arquipélago de Bijagós foi logo a que mereceu total entusiasmo. O Felipe já tinha feito os contactos locais e rumámos ao embarcadouro para uma prevista partida pelas 10 horas. 
Desilusão: baixa-mar  e o ferry em seco. E que ferry! Parecia saído de um qualquer sucateiro tal era a sua aparência.  Segurança a bordo, coletes salva-vidas, baleeiras – claro que não! 
Começa o drama! Tinham-nos dito que a duração da viagem até Bolama seria de cerca de pouco mais de uma hora. Agora, bem conversado a viagem levaria mais de três horas para cada lado; avaliava-se que só haveria água suficiente para o ferry navegar lá pelas 14 horas.  Impraticável!

Discussão com o indígena que argumentava já ter comprado o gasóleo para o barco mas como os € 500 que se tinham combinado ainda estavam na posse do Felipe, pois, temos pena mas… nada de viagem. 
Há sempre alguém mais obstinado em não encarar a realidade e lá partiu um grupinho para Quinhamel à procura de uma suposta lancha rápida mas viu também gorada a sua intenção de alcançar Bijagós. 
Uma passagem pela RTP África para perceber o silêncio dessa estação noticiosa e com as dificuldades de contacto telefónico, mesmo com um telemóvel local, não se conseguiu oportunidade para a recepção na Universidade Lusófona de Bissau, como havia sido agendada em Lisboa. 
Um dia perdido, ou talvez a descansar, no complexo do Uaque.

E assim se CONCLUIU A MISSÃO COM TOTAL SUCESSO


O regresso poderá ser uma forma diferente de fazer férias. A pressão e a responsabilidade do transporte de todos os bens estavam ultrapassadas; e organização considera-se, a partir de agora, desmobilizada embora gostasse de, por razões de segurança de cada um, que o grupo se mantivesse minimamente unido até à entrada da fronteira de Marrocos.

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